Mística fragmentada...

Procurei restaurar as partes que de mim se afastaram...
O homem moderno é um ser interiormente fragmentado, mas mesmo assim fica deslumbrado com o que vê e sente. Essas descobertas o colocam no umbral da divindade.

A busca da própria felicidade, o relativismo das normas e o subjetivismo individualista emergem como características da pós-modernidade e se traduz numa mentalidade mágico-utilitarista com o sagrado, autossatisfação a qualquer custo e desejo descomprometido com o outro. Busca-se o sagrado, mas não a pessoa de Deus.

Há a experiência objetiva, relacionamento com objetos e a experiência intersubjetiva, relacionamentos entre pessoas. A experiência de Deus é intersubjetiva! 

A “experiência religiosa” é objetiva, pois a pessoa não está interessada em Deus, mas com as coisas que a ele pertencem. Ela é interesseira e centrada no próprio sujeito humano. A “experiência de Deus”, pelo contrário, é intersubjetiva e não depende da nossa iniciativa. 

A "experiência religiosa" é comum a inúmeras religiões. Quantos se aproximam das coisas de Deus buscando benefícios pessoais! Na "experiência de Deus" superamos as mediações e chegamos, por pura graça, ao núcleo do pessoal escondido.

Hoje, sem uma experiência de Deus não é possível a vida cristã.

Mas, é possível o relacionamento imediato com Deus?

Uns dizem que o relacionamento “imediato” com Deus não é possível, pois ele não fica reduzido às mediações humanas. Esta resposta nos deixa no umbral do divino e nos faz cair num ceticismo corrosivo. Nada nem ninguém é importante!

Outros afirmam que o relacionamento interpessoal “imediato” com Deus talvez seja possível para alguns, mas não para a maioria dos mortais. Esta resposta fundamenta a própria fé no testemunho de outros, naquilo que eles dizeram ter visto, ouvido e experimentado, mas não na própria experiência.

Por fim, outros afirmamos que a experiência “imediata” de Deus é possível se Ele tomar a iniciativa. Temos a capacidade de acolher o mistério de Deus!

Os cristãos do século XXI não somos os primeiros, nem os últimos, a manter esse diálogo amoroso com Deus. O Antigo Testamento apresenta continuamente esse relacionamento de Deus com pessoas concretas. E o Novo Testamento apresenta pessoas que se relacionavam carinhosamente com Jesus. Se Deus outrora realmente se comunicou, também pode hoje fazê-lo. 

A experiência de Deus em Jesus Cristo implica num relacionamento inter-subjetivo pela fé e toca nossas dimensões mais profundas: sensibilidade, valores e atitudes.

Inácio de Loyola, no fim da Idade Média, se colocou na corrente dos que experienciaram diretamente o Deus escondido. O Infinito se relacionou  com ele e o marcou indelevelmente. Inácio passou de uma "experiência religiosa" descomprometida para uma "experiência de Deus" que modificou totalmente a sua vida.

E o que Inácio experimentou ele propõe nos seus Exercícios Espirituais. Você pode se preparar para acolher a experiência imediata de Deus. Este relacionamento intersubjetivo humano-divino é fundamental para o discipulado cristão.

Deus se relaciona de algum modo com todos, mas nem todos temos consciência deste encontro.

Quem ama, acredita e quem acredita, ama! Somos místicos quando amamos! 

Uma pergunta: Você
ama?

2 comentários:

  1. Padre Ramon, o senhor vive no encontro amoroso com Deus. Essa descoberta enleva e justifica toda uma vida, que se vê pautada por essa revelação. Deus o abençoe! Saudade!

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  2. Gostei muito. A ilustração compôs bem o texto, como linguagem multimodal, para usar um termo da moda.

    Parabéns, Pe Ramon!

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